sábado, 10 de setembro de 2011

Poesia do mes - COTIDIANO



- Cotidiano

Cotidiano, começa o dia,

Maria e Zé levantam às 5

Pois é, com fé

Tomam um café, 2 vezes passado,

pra aproveita o pó, né

Molha o pão de antes de ontem

Amolecido fica, como é o coração

Pai nosso, ave Maria

A reza de cada dia

Meu pai ilumine mais uma batalha da vida

Um novo dia, mais uma correria

Beijo nas crianças, a mais velha tá na responsa

O ponto tá daquele jeito

O campo tá minado

Paga conta, pega fila

Ônibus lotado, imagine o trem

Lotação também

É o vai e o vem

Atravessando a ponte, observo meus irmãos apertados

Muitos angustiados, eu tomei meu café

E o guerreiro ao meu lado

Uns vem em pé, outros sentados

Da janela que estou, vejo um carro importado

Uma madame, com um poodle, com um latido bem chato

Deve estar indo ao shopping, é claro

O marido deve ser empresário, ou deputado

Um senhor acende uma bituca de cigarro

O moleque, no farol, ganha seu trocado

A prostituta faz seu ponto, não é nada fácil

Na quebrada, ta moiado

Os polícia colaram e saíram com o camburão estrumbado

Sô trabalhador, senhor, leva que é pra cumprir o mandato

Dei sorte hoje, amanhã pode tá embaçado

É época de eleição, qué fazê bonito

Pros bacana, pra ser o próximo candidato

Qué limpa a cidade, devia começa pelo outro lado

É Lá que ficam os safados, colarinho engomado

Lixo tóxico que explora o busão lotado

Estou à margem, mais eles que são os marginalizados

Eu, eu sou um simples trabalhado, ganho o meu suado

Observando da janela do busão lotado

Apenas sonho para que esse lixo todo seja mudado

E os meus filhos não precisem molhar o pão no café fraco

Quero ser livre, sentir a leve brisa do meu barraco

E não me sentir um escravo, sendo maltratado por capitães do mato

Que enquadram, matam e são engravatados.

Observo tudo da janela do busão lotado e apertado

É mais um dia de trabalho.

Zinho Trindade

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