segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Cotidiano - Poesia do mês


- Cotidiano

Cotidiano, começa o dia,
Maria e Zé levantam às 5
Pois é, com fé
Tomam um café, 2 vezes passado, 
pra aproveita o pó, né
Molha o pão de antes de ontem
Amolecido fica, como é o coração
Pai nosso, ave Maria
A reza de cada dia
Meu pai ilumine mais uma batalha da vida
Um novo dia, mais uma correria
Beijo nas crianças, a mais velha tá na responsa
O ponto tá daquele jeito
O campo tá minado
Paga conta, pega fila
Ônibus lotado, imagine o trem
Lotação também
É o vai e o vem
Atravessando a ponte, observo meus irmãos apertados
Muitos angustiados, eu tomei meu café
E o guerreiro ao meu lado
Uns vem em pé, outros sentados
Da janela que estou, vejo um carro importado
Uma madame, com um poodle, com um latido bem chato
Deve estar indo ao shopping, é claro
O marido deve ser empresário, ou deputado
Um senhor acende uma bituca de cigarro
O moleque, no farol, ganha seu trocado
A prostituta faz seu ponto, não é nada fácil 
Na quebrada, ta moiado 
Os polícia colaram e saíram com o camburão estrumbado
Só trabalhador, senhor, leva que é pra cumprir o mandato
Dei sorte hoje, amanhã pode tá embaçado

É época de eleição, qué fazê bonito
Pros bacana, pra ser o próximo candidato
Qué limpa a cidade, devia começa pelo outro lado
É Lá que ficam os safados, colarinho engomado
Lixo tóxico que explora o busão lotado
Estou à margem, mais eles que são os marginalizados
Eu, eu sou um simples trabalhado, ganho o meu suado
Observando da janela do busão lotado
Apenas sonho para que esse lixo todo seja mudado
E os meus filhos não precisem molhar o pão no café fraco
Quero ser livre, sentir a leve brisa do meu barraco
E não me sentir um escravo, sendo maltratado por capitães do mato
Que enquadram, matam e são engravatados.
Observo tudo da janela do busão lotado e apertado
É mais um dia de trabalho.

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